terça-feira, 6 de maio de 2008

Falares Africanos na Bahia - Yêda Pessoa de Castro

Aurélio Buarque de Holanda e Houaiss estão em xeque. Pelo menos é o que atestam os estudos da conceituada etnolingüista baiana Yeda Pessoa de Castro, que lançou o livro Falares africanos na Bahia, que tem fomentado polêmicas por onde passa. Em linhas gerais, o escrito lança a inusitada idéia de que o português falado no Brasil está muito mais para o banto-africano do que para o luso-europeu e indígena. A tese seria uma espécie de desafio aos ditames acadêmicos dos conhecimentos etimológicos do português falado por aqui, que supervaloriza a influência da fala indígena e dá mérito ao português de Portugal, dispensando, muitas vezes, a influência da articulação dos falares dos povos africanos que para aqui foram trazidos entre os séculos XVI e XIX.

'O que me estarreceu é que como se explicava o fato de não haver nenhuma influência africana no nosso português, sendo que o Brasil recebeu de seis a oito milhões de falantes, um número muito superior à da população branca?', colocou, enfatizando que muito cedo os índios se retiraram das cidades para as matas, sendo que as suas influências na língua se concentraram mais em área rurais. A etnolingüista, 65 anos, levou 40 anos de estudos na Bahia, Congo, Nigéria e Trindad e Tobago para chegar até a sua tese. Não sem motivo, o escritor Millôr Fernandes tem propagado que Falares africanos na Bahia é sua nova Bíblia.

'No encontro das línguas africanas, o banto em particular, como o português arcaico, em vez de emergir uma nova língua, aconteceu um processo de africanização em função da semelhança estrutural entre o banto e o português arcaico. As línguas banto têm sete vogais orais, do ponto de vista da pronúncia, assim como ocorre no português do Brasil e no português arcaico', disse Yeda, referindo-se à estrutura extremamente vocalizada dessa língua onde cada sílaba vem acompanhada de uma vogal. 'Mesmo as sílabas átonas são pronunciadas no Brasil como nas línguas banto' atestou.

Os negros que foram trazidos para o Brasil durante três séculos são, em grande maioria, de origem banto. Por isso mesmo, a predominância das palavras africanizadas do português daqui vem dessa nascente. Diferente, portanto, do teor de influências dos falantes de ioruba (nagô), procedentes da Nigéria Ocidental e Benin Oriental (reino ketu), que foram trazidos já no terceiro ciclo da escravidão. Entretanto, a maioria dos estudos sobre o tema concentra-se na influência iorubá.

2 comentários:

Quezia Maria Reis de Oliveira Barbosa disse...

Essa tese é relevante. Li artigos dessa autora.
qual a sua editora. preciso conseguir esse livro

UAMIRI PALLUZO disse...

Olá!
Tentei enviar meu e-mail, mas não foi possível.
Quero comprar o livro: FALARES AFRICANOS NA BAHIA DE YEDA PESSOA 2º Ed.
Meu contato é: alciclea_clea@hotmail.com ou tel. 71- 99750421

Obrigada!
Alcicléa