sexta-feira, 3 de abril de 2009

A casa da Água - Antonio Olinto

Ao longo do século XIX, muitos ex-escravos e seus descendentes saíram do Brasil e foram para África, nos territórios que hoje fazem parte da Nigéria, Benin, Gana, Costa do Marfim. São conhecidos em geral como agudás e sua saga é analisada por talentos do quilate de Gilberto Freyre, Pierre Verger e Alberto da Costa e Silva. O extraordinário romance "A Casa da Água", de Antônio Olinto, que conta a história através da ascensão de uma família brasileira no continente africana , numa trama épica que atravessa 60 anos.

O enredo começa com a decisão de uma ex-escrava, Catarina, de retornar à Nigéria, levando a filha e os netos. Uma das crianças, Mariana, é a personagem central do romance, mulher de personalidade forte e gênio empreendedor que cresce entre as culturas brasileira e africanas e se torna uma rica comerciante com negócios nas colônias européias do Golfo do Benin, ambiente em que se misturam inglês, francês, português, iorubá e outros idiomas e tradições.

Os filhos de Mariana afastam-se dos costumes brasileiros e fazem estudos universitários na Inglaterra e na França, formando a geração de africanos instruídos que tem o papel decisivo na luta pela independência de seus países, a partir dos anos 50.

Mariana é o centro de uma teia de mulheres que conduzem o destino de uma família onde os homens estão em larga medida ausentes, ou são sobrepujados pela energia e determinação das parentes femininas.

O título do romance refere-se a uma famosa construção na cidade nigeriana de Lagos, uma casa com poço artesiano feito por brasileiros. No livro, é a partir da venda da água extraída do poço que Mariana inicia sua fortuna. De fato, boa parte dos ex-escravos que voltaram à África haviam aprendido ofícios no Brasil e eram conhecidos por sua perícia profissional como marceneiros, alfaiates, mestres de obra etc. Formaram o embrião de uma burguesia mercantil, até serem desalojados pelos colonizadores europeus que fatiaram o continente no fim do século XIX.

Olinto serviu como adido cultural do Brasil na Nigéria, nos anos 60, e lá conheceu os agudás que inspiraram sua obra-prima. O carinho e o interesse do autor pela África são evidentes no calor humano de seu belíssimo livro. É o primeiro de uma triologia completada por "O Rei do Keto" e "O Trono de Vidro".
 
 
 
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